sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mas como dói!

Foto: Itabira - MG

Confissão do Itabirano
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Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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Carlos Drummond de Andradre

2 comentários:

  1. Pra mim, Drummond e Fernando Pessoa são os maiores poetas da língua portuguesa! E eu descobri que esse poema tem TUDO a ver com a minha vida! Chega me dá um aperto quando leio...

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  2. Adoro esse, tenho lembranças dele desde muito pequenininha...

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