segunda-feira, 19 de julho de 2010

Tecendo a manhã


1
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de Melo Neto.

5 comentários:

  1. Pois é, meninas, é com este poeminha singelo que completamos o post de número 200 do nosso blog! A cada dia que passa, fico mais orgulhosa desse laço que criamos. Espero um dia chegarmos ao post de número 1000! :)
    Muito obrigada a todas vocês por me proporcionar esses momentos lindos, e essas leituras maravilhosas!

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  2. PS: estava revivendo nossos posts, e alguns deles não estão mais legíveis, por conta do novo layout, viu? Eu já arrumei os meus hehe =*

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  3. Morro de amores por esse blog. Se estou feliz, se estou triste, se estou melancolica.... sempre venho parar aqui!!Uma fonte de inspiração constante, feita sempre com tanto carinho!!

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  4. Gente, que lindo, 200 posts!
    Que tagarelas que nós somos, hahahah!
    P.S.: descuuulpa de novo pela ausência, às vezes a unb não me permite entrar aqui, haha!

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  5. P.P.S.: esqueci de comentar do poema! Uma tessitura incrível criada por João Cabral, é impressionante a capacidade de manusear as palavras que esse homem tem!

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